4 de maio de 2023

NEXTORY SPECIAL #1 - A História do Meta (Parte 1) [2002-2005]

O rei dos duelos psíquicos!

A história de Yu-Gi-Oh! começa como um mangá mensal que conta a história de um pequeno garoto que foi possuído pelo espírito de um poderoso faraó e que desafia vários personagens nos mais variados jogos. Um deles, era chamado de "Magic & Wizard", e que mais tarde seria renomeado para "Duel Monsters". No início, a ideia do mangá era inspirado em diferentes jogos de cartas que já existiam na década de noventa como "Magic the Gathering". Contudo, o mangá rapidamente virou anime e com o passar do tempo se tornou algo próprio, com suas próprias cartas, regras e torneios. Não demorou muito para que o novo jogo de cartas se tornasse popular e seu crescimento foi gigante. Hoje, Yu-Gi-Oh! detém o título de jogo de cartas mais vendido do mundo, e conta com campeonatos mundiais, YCS, WCQ e os mais diversos Decks e estratégias... mas, afinal, como é que chegamos até aqui!? É isso que você vai descobrir nesse Nextory mais que especial!

2002 - O COMEÇO DE TUDO

O jogo de cartas que conhecemos hoje surgiu em Março de 2002, com o lançamento das primeiras coleções da história do TCG: The Legend of Blue-Eyes White Dragon e dois Starter Decks que correspondiam ao Yugi e Kaiba, e traziam cartas clássicas vindas diretamente do Anime. A essa altura do campeonato o jogo estava literalmente nascendo. Existiam poucas cartas, pouca variedade e pouquíssimas estratégias. Muitos dos monstros eram apenas Monstros Normais ou com apenas 1 linha de efeito. Com o passar do tempo e a chegada de novas coleções ao longo de 2002, muitos do jogadores mais competitivos da época passaram a reconhecer que o Summoned Skull (Rei Caveira para os íntimos) seria o divisor de águas do "formato". Sendo um monstro de Nível 6 com 2500 de ATK ele era mais forte que qualquer outro monstro que necessitavam de apenas 1 Tributo e tão forte quanto a maioria dos monstros que necessitavam de 2 Tributos na época.

Outros monstros que moldava as builds mais competitivas da época eram os Monstros Normais de Nível 4 com alto poder de ATK. No início, La Jinn the Mystical Gennie of the Lamp era o monstro com maior ATK dentre os monstros que não precisavam de Tributos com seus 1800 ATK. Ele seria superado não muito tempo depois com a chegada do Mechanicalchaser (1850 ATK), lançado no primeiro Tournament Pack do jogo. Contudo, apesar de mais forte que o La Jinn e outros monstros com 1800 ou menos de ATK, ele não chegou a ser tão utilizado no metagame pois era um monstro extremamente raro, podendo ser obtido apenas como premiação de torneios numa época onde as cartas eram muito mais escassas.

Esse período do jogo ficou conhecido como o formato Summoned Skull Beatdown, apesar de não existirem "formatos" de fato na época. Esse nome surgiu apenas porque a maioria dos Decks da época utilizavam o Rei Caveira para causar maior quantidade de dano. O jogo estava no começo, os duelistas ainda não eram tão habilidosos e a grande maioria jogavam porque eram fãs do anime. Existiam poucos torneios e um cardpool extremamente pequeno, por isso o "meta" de fato se resumia a praticamente qualquer Deck que utilizasse o Rei Caveira em suas builds. 

Ainda assim, as cartas mais poderosas do jogo foram lançadas nesse período. Monster Reborn, Pot of Greed, Raigeki, Dark Hole, Change of Heart e Heavy Storm. Essas cartas passaram a imediatamente fazer parte de todos os Decks do meta e também inauguraram o que hoje conhecemos como Banlist (na época, apenas Limited List), sendo possível utilizar apenas 1 cópia de cada nas builds. Eram cartas extremamente fortes e com efeitos sem nenhum tipo de custo para quem as utilizavam.

A primeira coleção que de fato mudou o cenário competitivo do jogo foi a Magic Ruler (que depois foi renomeada para Spell Ruler). Como o seu nome sugere, essa coleção trouxe para o jogo uma grande quantidade de Cartas Mágicas, incluindo The Forceful Sentry, Delinquent Duo, Confiscation, Mystical Space Typhoon, Paiful Choice e Snatch Steal. E, apesar dessas cartas não serem tão poderosas quanto as anteriores, o simples fato de poderem ser utilizadas de modo ilimitado fizeram com que rapidamente se tornassem as primeiras staples do jogo.

No entanto, foi com a chegada da coleção Pharaoh's Servant que de fato a estrutura dos Decks começou a mudar. Essa coleção trouxe para o jogo um dos monstros mais fortes para a época e até hoje ainda extremamente popular. O poderoso Jinzo era um Monstro de Nível 6, e apesar de ser um pouco mais fraco que o Summoned Skull, ele trazia consigo um poderoso efeito capaz de desligar por completo uma mecânica inteira do jogo. Sua negação de Cartas Armadilhas como Mirror Force ou Trap Hole tornava possível para qualquer jogador passar por cima das principais estratégias defensivas da época como se não fossem absolutamente nada.

Summoned Skull Beatdown ao final de 2002

2003 - A ASCENÇÃO DO YATA-GARASU

No começo do ano de 2003 o melhor Deck do formato ainda era o Summoned Skull Beatdown, mas com o cardpool um pouco mais variado, algumas diferenças começaram a serem vistas nas Decklists. A chegada de cartas como Gemini Elf, um poderoso Monstro Normal com 1900 de ATK e de monstros com efeitos mais complexos para a época fizeram o Deck passar de um Beatdown completo para algo que também tinha como controlar as ações do oponente. Essas estratégias giravam em torno dos recém-lançados Kycoo the Ghost Destroyer e Bazoo the Soul-Eater. Ambos foram revolucionários para a época, pois podiam remover cartas do jogo (o que chamamos hoje de "banir") e diminuir os recursos do oponente, ou no caso do Bazoo servir como um boost de até 900 de ATK, sem contar que o Kycoo também tinha um efeito que impedia o seu oponente de banir cartas, então se você começasse primeiro e o Invocasse, ele não poderia fazer o mesmo contra você. Por isso, nessa época começou a se tornar relevante o fato de escolher ou não começar primeiro.

Com a chegada de novos Starter Decks e coleções regulares o cardpool de Magias e Armadilhas foram aumentando, e passaram a ser incrementadas em vários Decks. Cartas como United We Stand auxiliavam na estratégia do Beatdown, e outras como Graceful Charity, Harpie's Feather Duster e Torrential Tribute passaram a ser staples em praticamente qualquer Deck da época.

Em meados do ano de 2003 a comunidade viu algo até então inédito: o primeiro Campeonato Mundial de Yu-Gi-Oh, que reuniria os melhores duelistas do mundo. O campeonato ocorreu sem maiores problemas, e serviu para mostrar que, apesar da estratégia Beatdown ainda ser considerada a mais popular, uma nova estratégia estava despontando com certo potencial, estratégia essa que mais tarde seria conhecida como Hand Control. Essa estratégia tinha o foco em descartar cartas da mão do oponente, usando cartas como Confiscation, Delinquent Duo, The Forceful Sentry e os recém-lançados Don Zaloog e Drop Off, deixando o oponente com poucos ou nenhum recurso para dar a volta e virar o jogo.

Foi então, com a chegada da coleção Legacy of Darkness que o Deck deixou de ser apenas uma estratégia forte e se tornou de fato um problema, pois foi nessa coleção que foi lançado um dos monstros mais conhecidos de toda a comunidade. O Yata-Garasu chegou como um divisor de águas no Metagame, e ele tinha o potencial para vencer jogos praticamente sozinho. Com o seu efeito, ao causar dano de batalha no seu oponente a próxima Fase de Compra dele seria pulada. E como o oponente já estaria com poucos ou nenhum recurso na mão, ele teria de esperar longos turnos para que seus pontos de vida fossem completamente zerados, de ataque em ataque, sem que nada pudesse fazer.

Além do Yata-Garasu Lock, outro Deck que ganhou popularidade do meado para o final do ano de 2003 foi o Magical Scientist FTK. Sua premissa era simples, mas extremamente competente e revolucionária para a época, sendo o primeiro Deck a de fato explorar um pouco mais o Extra Deck (na época apenas Fusion Deck). Seu foco era em utilizar o efeito do Magical Scientist para Invocar vários Monstros de Fusão do Extra Deck (os de maior ATK possível) e Tributá-los pelo efeito da Catapult Turtle para causar 8000 de dano ao seu oponente antes que ele pudesse fazer qualquer coisa. Contudo, apesar de forte, o Deck não tinha a mesma consistência que o Yata-Lock e por isso não era visto com tanta frequência, mas ainda assim era algo difícil de ser combatido, já que na época as handtraps sequer sonhavam em existir. Mas de positivo, estava o fato do Magical Scientist ter de fato tornado o Extra Deck parte da estratégia, e isso se tornaria mais comum.

No final do ano de 2003 o Deck Beatdown ainda era o mais popular (até mesmo por ser o mais acessível), mas os Decks de controle, como Yata-Lock eram claramente melhores e estavam começando a aparecer com mais frequência, e que seriam incrementados com o passar dos anos.

O temido Yata-Lock de 2003

2004 - O ANO DO CAOS

O ano de 2004 praticamente começou com o lançamento da coleção Invasion of Chaos e com a chegada dos monstros "Chaos". Os dois principais monstros da coleção eram o Black Luster Soldier - Envoy of the Beginning e Chaos Emperor Dragon - Envoy of the End, que ao chegarem no jogo mudaram completamente o panorama do Metagame. Eles eram imbatíveis em termos de ATK e DEF e poderiam ser Invocados de forma fácil, pelos seus próprios efeitos (o que era um conceito relativamente novo para a época).

Os Chaos começaram a aparecer no jogo ao mesmo tempo que o TCG começou a realizar eventos competitivos com maior frequência e isso serviu para promover ainda mais o Deck, os WCS e Qualificatórias Regionais começaram a surgir nesse meio tempo e praticamente todos os Decks ou eram Chaos Control ou de alguma maneira tentavam jogar contra ele, e foi daí que surgiu o termo "Anti-Meta", já que se tratava de um Deck específico para combater o meta. As poucas vertentes que não usavam monstros Chaos ou que não eram anti-meta acabavam por perder espaço, e pode se dizer que foi a partir dessa época que o Deck de Summoned Skull e suas variantes morreram de vez para o cenário competitivo do jogo, e não mais voltariam.

Além do absurdo ganho de poder, a chegada dos Monstros Chaos também proporcionaram uma significativa mudança na forma como os Decks eram montados. Antigamente era incomum usar 2 ou 3 cópias de determinada carta, apesar de existirem exceções, mas foi a partir do ano de 2004 que grande parte do Deck começou a de fato utilizar 2 ou mais cópias de alguns monstros em específico, pois viram que isso ajudaria na estratégia e também na sinergia e consistência.

Outra grande diferença também foi a maior presença de monstros de LUZ e TREVAS em boa parte dos Decks, e foi a partir daí que Atributos de monstros passaram a ter certa relevância em algumas estratégias, principalmente para facilitar a Invocação dos monstros Chaos. Por conta disso, monstros como D.D. Warrior Lady e Shining Angel começaram a aparecer mais no cenário competitivo, e normalmente de forma potencializada, com 2 ou 3 cópias, e por fim o Reflect Bounder também se mostrou uma opção bem viável em boa parte dos Decks, por oferecer uma win condition adicional através do dano de efeito.

Para se ter ideia do quão dominante o Deck Chaos era nessa época, houveram o lançamento de duas novas coleções para o jogo (Ancient Sanctuary e Soul of the Duelist), e apesar de trazer cartas consideravelmente fortes como Mobius the Frost Monarch ou Enemy Controller, nenhuma chegou perto de conseguir mudar o panorama do meta. O Deck Chaos se tornou tão dominante ao ponto de ser necessário criar a primeira Forbidden & Limited List do jogo. O que antes era apenas um seleto grupo de cartas que por motivos óbvios tinham seu uso limitado, dessa vez se tornou algo muito maior. Cartas como Raigeki, Harpie's Feather Duster, Chaos Emperor Dragon - Envoy of the End e Yata-Garasu tiveram o seu uso proibido, e daquele momento em diante nenhum jogador poderia utilizar essas cartas em seu Deck.

Contudo, o Deck Chaos ainda permaneceu relevante no meta pelo resto do ano de 2004 com builds que agora focavam no Black Luster Soldier e que também tinham grande potencial de dar FTK no oponente, com o uso do Magical Scientist e Catapult Turtle como uma espécie de "engine", se é que assim podemos dizer.


Deck Chaos em meados de 2004

2005 - O FORMATO GOAT

O ano de 2005 começou como terminou o anterior. O formato era completamente dominado pelo Deck Chaos e suas variantes. Algumas delas tinham foco em banir cartas, outras em dar FTK e algumas até se arriscaram na estratégia beatdown. Mas a verdade é que o Deck só saiu do metagame de fato com a segunda Banlist do jogo, lançada no dia 1° de Abril de 2005. Era bom demais para ser verdade. Algumas cartas como Fiber Jar, Magical Scientist, Confiscation e The Forceful Sentry foram banidas, e a popular D.D. Warrior Lady foi limitada. Após isso o jogo entrou num dos períodos mais nostálgicos da história: o Formato Goat.

O Formato Goat recebeu esse nome por causa do novo Deck denominado de "Goat Control". Sua premissa era relativamente simples e igualmente eficaz. A ideia era ativar a Scapegoat no final do turno do oponente e durante o seu turno ativar a carta Metamorphosis, oferecendo um dos Tokens como Tributo e Invocando um Monstro Fusão de mesmo Nível, que nesse caso era o Thousand-Eyes Restrict, que uma vez por turno poderia equipar um monstro do oponente nele e roubar seu ATK/DEF. Era uma forma de removal inovadora e difícil de ser combatida. Vale salientar também que o formato estava mais lento, o que tornou possível para esse Deck se popularizar.

No entanto, diferente do Formato Chaos, o Formato Goat também tinham outros Deck que conseguiam certo destaque. Um desses Deck era o Machine OTK, que inclusive conseguiu boas colocações no Mundial daquele ano. A premissa era simples e relembrava os tempos dos Decks de Beatdown. A ideia era Invocar o Fusilier Dragon, the Dual-Mode Beast o mais rápido possível e negar os seus efeitos com a Skill Drain, assim era possível Invocar um monstro com 2800 de ATK de maneira fácil diretamente da mão, sem oferecer Tributos, burlando seu drawback e gerando vantagem. Para complementar essa estratégia os jogadores usavam e abusavam da Limiter Removal (que assim como hoje, na época estava ilimitada) para facilmente dar OTK no oponente. O Deck também utilizava outros monstros Máquina com alto poder de ATK como o Mechanicalchaser.

Outro Deck que se tornou possível com a diminuição da velocidade do jogo foi o famoso Flip Control, ou também chamado de Flip Flop, que era totalmente baseado em Virar e Baixar os monstros Flips como Morphing Jar e Des Lacooda, no intuito de adquirir vantagem e lentamente minar os recursos do seu oponente. Isso tudo era possível graças ao efeito da Tsukuyomi, que ao ser Invocada poderia colocar um monstro com a face para baixo, e durante a Fase Final, ela retornava para a mão e assim criava um ciclo vicioso. Outro monstro muito popular na época foi o Night Assailant, que conseguia jogar muito bem em volta da Delinquent Duo, uma staple muito comum da época.

O Formato Goat durou 6 meses no TCG e terminou oficial em Setembro de 2005 por conta de alguns fatores. O primeiro deles foi a Banlist de Setembro daquele mesmo ano, que baniu cartas Graceful Charity, Delinquent Duo, Sinister Serpent e o poderoso Black Luster Soldier - Envoy of the Beginning. No entanto, cartas como Thousand-Eyes Restrict, Scapegoat e Metamorphosis foram Limitadas, o que deixou o Deck Goat Control extremamente enfraquecido. Além disso, a banlist também limitou cartas como Tsukuyomi, Book of Moon e Night Assailant, que serviu para enfraquecer tanto o Deck Flip Flop, mas também o Goat Control, pois ambos utilizavam essas cartas.

O segundo fator foi a chegada de um novo monstro totalmente revolucionário. O Cyber Dragon foi lançado em Agosto de 2005 na coleção Cybernetic Revolution e se apresentaria como um novo marco no metagame. Antes do seu lançamento, a maioria dos monstros Invocados no primeiro turno eram apenas monstros com 1900 ou menos de ATK, em sua grande maioria Monstros Normais ou com efeitos considerados fracos, e por isso a sua chegada se mostraria bastante revolucionária e problemática num futuro não muito distante.

Goat Control em meados de 2005

O fim de 2005 também marcou o início de uma nova era no card design de Yu-Gi-Oh! Lá se iam os dias em que apenas Invocávamos um monstro no primeiro turno e usávamos algumas Armadilhas para nos proteger. Assim como o cardpool do jogo aumentava, novas estratégias surgiam, que tornariam o jogo cada vez mais complexo e agressivo. Era chegada a hora em que teríamos de separar os homens dos meninos, mas isso fica para a parte 2 dessa história que está apenas começando.

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